História

O MAIS ANTIGO ESTABELECIMENTO FABRIL DO PAÍS

O interesse da Casa Real Portuguesa pela conservação de moedas e medalhas é muito antigo, podendo datar-se do reinado de D. José. É com este rei que, em 1777, é emitido um aviso, assinado por Marquês de Pombal, em que se procede à criação do Cofre da Casa da Moeda, destinado a receber “Huma moeda de cada cunho, e qualidade de metal, que se poderem hir achando, naõ só deste Reino, mas geralmente de todas as partes do Mundo: E semelhantemente huma Medálha tambem de todas as qualidades de metaes, que for possivel alcançarse, assim antigas, como modernas”. A publicação deste aviso teve como consequência a criação de uma coleção de utilidade pública, formada por moedas e medalhas representativas de muitas épocas importantes da história.

Em 1863, Sebastião Betâmio de Almeida, Diretor da Casa da Moeda, organiza o Gabinete Numismático, nele incorporando a coleção de moedas e medalhas constituída na sequência da promulgação do Aviso de 1777. Em 1867, o infante D. Luís, mecenas das artes e das letras, é nomeado Presidente de Honra da Sociedade Francesa de Numismática e Arqueologia. A sua coleção de moedas e medalhas está patente ao público na Exposição Internacional de Paris. A. C. Teixeira de Aragão dedica-se ao estudo da coleção, na qualidade de Conservador do Gabinete Numismático do Palácio da Ajuda, e publica a obra Description des monnaies, médailles et autres objects d’art concernant l’histoire portugaise du travail.

Em 1869, D. Luís determina que a coleção passe a estar disponível ao público, todos os domingos, no Palácio da Ajuda. A. C. Teixeira de Aragão prossegue o estudo da coleção e, em 1870, publica a obra Descripção historica das moedas romanas do Gabinete Numismatico de Sua Magestade El-Rei o Senhor D. Luiz I, e, entre 1874 e 1880, a Descripção geral e historica das moedas cunhadas em nome dos reis, regentes e governadores de Portugal, que rapidamente se transforma no estudo de referência sobre a moeda portuguesa. Após a subida de D. Carlos ao trono, em 1889, a Casa Real Portuguesa efetua o inventário da coleção de moedas e medalhas de D. Luís, originariamente pertencente ao Arquivo Histórico do Ministério das Finanças. A coleção mantém-se sem alterações significativas até à Implantação da República, em 1910.

Neste ano, o Palácio da Ajuda é encerrado e o respetivo recheio arrolado. A coleção de D. Luís, herdada entretanto por D. Carlos e D. Manuel II, mantém-se em situação de arrolamento sob a dependência de um funcionário superior da Direção-Geral da Fazenda Pública. Na sequência da alteração do estatuto do Palácio da Ajuda, a coleção do Gabinete Numismático é transferida para a Casa da Moeda em 1924, na altura situada ainda na Rua de São Paulo, com a justificação de se tratar de um edifício de localização central e de maior segurança, aqui formando um conjunto especial.

Para salvaguardar o interesse público da coleção, a Presidência da República lança mãos ao projeto de criação do Museu Numismático Português, que vem a ser inaugurado oficialmente por Manuel Teixeira Gomes a 14 de junho. A partir de 1932, com a criação do lugar de Conservador do Museu Numismático Português, Pedro Batalha Reis começa a estudar sistematicamente a coleção. O Museu é elevado à condição de Museu Nacional em 1933, e, um ano mais tarde, a Direção-Geral da Fazenda Pública entrega as chaves das vitrines em que se guardavam as moedas e medalhas da coleção ao Administrador-Geral da Casa da Moeda. A partir de 1937, Damião Peres dá início ao inventário em livro do acervo do Museu, e, um ano depois, é iniciada a mudança de todos os serviços da Casa da Moeda da Rua de São Paulo para o Arco do Cego, que viria a estar concluída em 1941, ano em que é terminada a transferência do acervo para o novo edifício. Em 1944, o Museu Numismático Português passa a funcionar anexo à Casa da Moeda. É aqui que Damião Peres continua a fazer o inventário do acervo do Museu.

Antigo Museu localizado no primeiro andar do atual edifício da Casa da Moeda, onde se pode ver ao fundo o fresco do Pintor Henrique Franco.

Em 1946, durante a presidência de Óscar Carmona, o Museu é inaugurado no novo edifício da Casa da Moeda, sito à Avenida de António José de Almeida, junto ao Arco do Cego, em Lisboa. O Museu passou a ocupar duas alas no edifício: no piso térreo situava-se a exposição de cunhos, matrizes e punções, e, no primeiro andar, a exposição de moedas e medalhas e os gabinetes de trabalho. Novo estudos surgiram entretanto: Joaquim Figanier publica, entre 1949 e 1959, o Moedas árabes. Inventário e descrição, e Damião Peres, entre 1963 e 1971, o Catálogo das moedas indo-portuguesas do Museu Numismático Português. O ano de 1960 assiste à publicação do Catálogo geral de modelos, punções, matrizes, cunhos, galvanos e clichés que serviram ao fabrico de moedas, medalhas, títulos, valores selados, fórmulas de franquia e outros trabalhos.

Em 1972, tem lugar a fusão entre a Imprensa Nacional e a Casa da Moeda. O acervo do Museu Numismático Português passa a ficar incorporado no património da nova instituição. Por razões de segurança, o Museu encerra as suas portas ao público em novembro de 1978, disponibilizando o acesso ao acervo no quadro de visitas solicitadas caso a caso. Entre 1977 e 1990, logo após o início do processo de desmantelamento da exposição permanente, C. M. Almeida do Amaral procede à revisão dos estudos publicados sobre as moedas portuguesas e elabora o Catálogo descritivo das moedas portuguesas. Museu Numismático Português. Em 1981, na sequência da alteração do estatuto da Imprensa Nacional-Casa da Moeda, o acervo do Museu continua aí incorporado. Em 1985, devido a obras na Contrastaria, o espaço físico do Museu é reduzido significativamente e é efetuada a aquisição de novo material para acondicionamento do acervo em vitrines. Em 1987, é dada ordem de recolha integral do acervo do Museu à Casa-Forte da Tesouraria.

Desde esta data, o Museu tem valorizado o seu rico acervo numismático e medalhístico através de exposições temporárias, dentro e fora de portas, muitas vezes em colaboração com outras instituições. Em complemento do Museu, a Biblioteca e o Arquivo Histórico da Imprensa Nacional-Casa da Moeda têm proporcionado aos investigadores o acesso a documentação de grande importância histórica, produzida entre o século XVI e a atualidade. O plano de edições da Imprensa Nacional-Casa da Moeda tem vindo a contemplar a publicação de obras muito diversificadas, algumas das quais feitas com base neste acervo. Em 2016, a inauguração do Museu do Dinheiro, uma iniciativa do Banco de Portugal, conta de perto com o apoio da Imprensa Nacional-Casa da Moeda e mostra à comunidade peças emblemáticas da coleção, como o morabitino de D. Sancho II ou a dobra de 24 escudos de D. João V.

Em 2016, a abertura do Museu Casa da Moeda, um projeto de Museologia Digital inteiramente dedicado à Numismática e à Medalhística, vem contribuir para tornar acessível a todos, através do espaço virtual, a coleção de moedas e de medalhas da instituição. O Museu Casa da Moeda possui uma das mais vastas e completas coleções do género no país. Este projeto contempla a realização de exposições permanentes e temporárias e está associado a um serviço educativo, loja e edições próprias.